quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

voltando às artes

Recém dei uma entrevista para o prof. Ostermann dizendo que arte não serve para fazer política, pq uma denúncia atinge apenas um grupo muito pequeno, melhor é arregaçar as mangas e fazer política mesmo, protestar, se engajar, elaborar soluções. Exceção são os cantores pop: a música que move multidões combateu com sucesso a guerra no vietnã. Agora nós pobres artistas plásticos...
Aí vem a pergunta: e porque faço essas gravuras? Que ficaram mal gravadas no ácido fraco demais e estão agora no seu segundo banho. Depois vou levar uma cópia para cada um deles. Gravados em cobre eles saiem de sua situação momentânea de retratados e assumem um status de permanência e abstração [inclusive porque vão sair de lado virado, espelhados, :)] que os insere na tragédia e grandeza humana. Uma foto -arte por exemplo do Achutti poderia fazer o mesmo, mas não da minha câmera instantânea do celular.

Um comentário:

  1. Com certeza a arte não serve para fazer política, pois política é arte de não fazer nada (exceto aumentar salários). Mas a arte também serve para fazer crítica. Ela critica a ilusão. A ilusão de que somos uma espécie civilizada. Nossos moradores de rua são a prova dessa ilusão. Então lá vai a realidade. A realidade é que, do ponto de vista evolutivo, a nossa espécie é muito jovem, a postura ereta, além dos problemas de coluna, hérnias, etc., trouxe mais um, o de termos de desenvolver o nosso cérebro e por conseguinte nossas habilidades, depois do nascimento. Ou seja, precisamos de ajuda, precisamos ser treinados, programados, precisamos aprender tudo. Mas isso tudo acontece no grupo social (assim como numa matilha). Até a pouco tempo tínhamos nossas matilhas, se chamavam famílias. Aprendíamos a conviver nela. Agora nem isso temos. Então, se não aprendemos a conviver, só nos restam nossos instintos. Sim aqueles bem rudimentares, os instintos de sobrevivência, que herdamos da história evolutiva. E todo mundo sabe o que acontece quando agimos por instinto. Quando olhamos para os moradores de rua, estamos olhando para esses instintos. Os que aprenderam conseguem ver a beleza (que não é instinto) deles (os moradores de rua) e de seus instintos. Os que não aprenderam (quantos são mesmo?) conseguem ver o que? Nada. Depois de uma catástrofe, como uma enchente ou um terremoto, logo estão saqueando e se trucidando. Bom, a arte está aí para nos fazer lembrar de uma coisa, de como é fácil virar um deles... Até me atrevo a perguntar, será que algum dia deixamos de ser um deles?

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