Era dia 25 de dezembro, saí cedo de casa para cuidar dos cachorros no atelier, eu precisava ver se eles tinham levado um susto com tantas bombas estouradas para festejar. Ninguém na rua, carros também não. Parei na venda de sempre aos domingos, única aberta e fácil de estacionar,durante a semana não tem jeito de parar de tantos carros na rua, e isso em Teresópolis, parece bairro quieto, quase no mato. Uma senhora entrou, aflita, enquanto eu pagava no caixa, Olhem do outro lado da rua, parece que ele está morto. Moscas entrando pela boca aberta e com espuma e moscas entrando pelos olhos abertos, uns 70 a 80 anos ele tinha, parecendo, mas quem sabe, com essa vida que eles levam. Peguei o casaco dele e o cobri, para afastar os bichos que já estavam começando a comê-lo. O dono do mercadinho já ligou para a polícia, disse a senhora, mas se você pudesse ligar também, duas vezes é mais garantido. Fui no carro para pegar o celular, liguei e fui embora, achando que o morto já tinha dono. Tinha? Depois vieram os remorsos: não era bicho não, o que custava eu ter comprado uma vela para ele e ter esperado a polícia vir pegá-lo, que não estivesse sozinho o tempo todo, noite toda, sua última noite, noite de natal.
Dias se passaram, o rosto cor de cêra com as moscas não me saía da cabeça, pensei em descobrir mais sobre o velho. Ele parece que foi funileiro, perdeu o emprego e ficou na rua, mas não sabemos muito mais; a dona da venda. Um pouco mais adiante, na encruzilhada, embaixo de uma árvore com muita sombra, sempre vejo um amontoado de maltrapilhos, quietos. Será que eles o conheciam? Falo com eles? não?
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